but Heaven is where Hell is..

terça-feira, 26 de abril de 2011

uma história sem sujeito

O brilho dos olhos.

"(...) como de costume, chega mais tarde do que deveria, mas chega. Estaciona apressadamente, sai do carro e olha disfarçadamente para ver com o que conta. 
Segue para um abrigo não tão abrigado do vento como podia parecer, mas mesmo assim senta-se, do lado do vento, para não o deixar fugir para outro lado que não o seu. 
e ali fica, a dar e a receber mais um pouco de si.
as nuvens cinzentas lá longe fazem-se acompanhar de uma brisa fresca, que apenas serve para aconchegar e limpar a alma de toda a sujidade que fica esquecida por momentos, enquanto é levada e lavada por essa mesma brisa.
mais rápido do que seria de esperar, as gotas de água caem, ainda que a medo, e fazem-se sentir. Nas rochas, na água, na copa verde das árvores, em todo o lado. 
Coloca o carapuço do seu casaco velho para evitar molhar o seu cabelo seco e despenteado. Passa a mão por cima da cabeça tapada e apercebe-se que não tem nem uma pinga, apesar de continuar a chover.
Chove em todo o lado menos naquele metro quadrado de vida.
Entre o tempo que vai desde que se apercebe até que estranha esse fenómeno, a chuva começa a cair com mais força e aí sim, chove em todo o lado. 
Levanta-se e vai-se sentar numa mesa coberta por um pequeno telhado.
Senta-se em cima da mesa ao mesmo tempo que põe os pés sujos de lama em cima do banco de mármore também ele sujo, pelo tempo.
E repara na água a cair na água.
Enquanto a água que cai do céu toca água que está parada, esta brilha.
Sim, brilha mesmo.
um brilho natural, provocado pela conjugação da água que cai, da que se levanta, do sol escondido atrás das nuvens, da luz fraca e dos seus olhos, que também brilham. 
e ali fica, a ver o brilho da água e a absorver a simplicidade dos momentos que se vivem. "

Tristan La Cienega

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