but Heaven is where Hell is..

domingo, 27 de fevereiro de 2011

uma história sem sujeito.

"é tarde. 
Mais tarde do que deveria ter acordado num fim de semana tão normal quanto possa ter sido. 
Sai de sua casa, apressadamente, com uma mochila dos seus tempos inocentes de adolescente às costas, dois sacos sobrepostos no seu ombro esquerdo e um no direito, e vai para o carro, para iniciar a viagem para a sua terra natal, que tanto lhe diz apesar de o negar tantas vezes.
chega, também mais tarde do que deveria, ao seu paraíso local, sítio esse que tem acompanhado os seus regressos a casa tantas e tantas vezes ultimamente.
e lá vive.
um fim de tarde tão simples, honesto e inocente, que lhe faz (re)lembrar o tempo em que nada mais existia senão a pureza da vida, das palavras e, quem sabe, dos corpos.
Diz quem sabe porque não gosta da palavra quiçá.
palavras levadas pelo mesmo vento que agitou as águas quando se levantou e se virou para as apreciar de frente, sem medo nem coragem, apenas com a simplicidade e com a vontade de ver o vento partir, longe, espelhado pelo ondular da água suja pela imagem verde das árvores que partia lá longe, chegando perto de si em pequenas ondas, deixando antever a sua chegada fria à sua cara e ao seu cabelo, também ele levado pelo vento, que ali passava, deixando a sua marca de purificação momentânea.
o tempo passa, tão rápido quanto possa parecer e chega a hora de ir embora.
despede-se, entra no carro, pega o seu gorro quente, pois o tempo passa e fica tão mais frio do que estava quando chegou, e volta para uma rocha, ao acaso. 
desta vez não lhe apetece ficar numa rocha já por si conhecida. 
não.
apetece-lhe flanar, por entre tantas rochas, ervas e água diferentes. explorar o seu paraíso local numa tão normal tarde  de inverno que se torna diferente.
e caminha. 
e chega a hora de ir para casa.
e vai.
chega à sua CASA, vazia. 
senta-se no sofá, atrasando os seu compromissos, inventando uma desculpa esfarrapada para justificar o seu atraso.
depois de uma noite não tão normal e limpa quanto possa ter planeado, mete-se no carro e na viagem para casa, repentinamente sente uma revolta inesperada e gratuita que faz com que chegue a casa, dê de caras com a sua mãe, ainda acordada, lhe diga "olá" e segue para o seu quarto, para a sua cama e põe uma música que acalma a sua revolta, também ela momentânea, escreve e tenta adormecer. 
com o corpo tão puro quanto a sua tarde o fez parecer."

Tristan La Cienega

sábado, 19 de fevereiro de 2011

estou há uma hora em frente ao pc, não a vaguear mas sim a vadiar.
já abri o blog umas poucas de vezes e outras tantas menos uma o voltei a fechar.
tenho vontade de escrever, preciso de escrever, mas não estou com a mínima paciência.
as palavras não saem.
mais uma vez estou atrasado para sair de casa, mas ainda aqui estou, preso, inconscientemente, por um aperto que me faz querer ficar, mesmo não dizendo nada.
assim, escrevo esta meia dúzia de linhas, para me enganar a mim mesmo, na esperançar de me levantar aliviado e fazer o que tenho a fazer, sem ficar metade de mim para trás.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

'cuz heaven is where hell is..

 
 

"You lay your head into my lap
I strike your face
The taxi rushes through the night
I’m endlessly far away
Blue soldier moment
Oh sweet, grown-up woman
We’re hovering, gliding in the opposite of home
It is stickily-white, like heroin, thick, and it carries death in itself
Don’t worry, I will not try to sleep with you, I say
Staggering through your Kafkaesque dungeon
One thousand rooms
Losing myself there in your multiplicity and being blissful
Time is stretching toughly like plasticine
It is dark around me
I finally find your bed
Am I torturing you, darling? you ask
We pass away
I’m holding your black curly head in my arms
Breathing heavily and deeply
My heart is running
Oh night, oh grown-up woman, oh heroin
Sticky-white death
I’m choking, craning my neck into the heavy night air
Oh Yoon, your hair, bristly and smoky
I’m inhaling your smell
Our bodies full of sebum
Our lungs blackened
Death is lying in wait
But heaven is where hell is
The hell of decompensation pukes emotion
Pure emotion
Only emotion
Eternal emotion
I am nothing but emotion, no human being, no son, never again son
Only art, purity
Yoon, heroine, the detour has washed me to your shore
Where are you now?
I’m lying here in your arms, in the Glaslights of your brothel
Oh, lock me up in your grown-up heart"

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Don't underrate simplicity

Porque é disso mesmo que se trata: da simplicidade das coisas.
De um simples olhar.
De uma simples conversa.
De um simples vento gelado que acalma ou acelera esta doença, ou até mesmo que purifica a alma.
De um simples fim de tarde numa simples rocha.

Acompanhei o sol quando lá cheguei desde que ele se fez sentir, embora longe e fraco, até que foi substituído pela lua.
Mesmo em cima de mim, a lua.
A lua.
Brilhante como tão poucas vezes a vi, como que ligada à electricidade, com uma corrente forte e viva.
Acompanhada pela sua estrela de sempre. A estrela que a acompanha sempre, embora o seu brilho seja diferente a cada dia.
Mas sempre presente.
Mesmo quando a lua não está, a pequena mas brilhante estrela está lá sempre, para nos fazer lembrar que embora ausente, aquela que é possuidora das mais variadas formas, está lá. Sempre esteve.
No crepúsculo de um fim de tarde não tão frio como o vento gelado quer fazer parecer, ali se vive, com maior ou menor dificuldade, com palavras, com o silêncio.
E com o olhar.
Fixado no chão, interrompido pelo som e pelo voo dos patos. Interrompido também pela vontade de aproveitar o momento e as simples coisas. E fixa-se, também, em duas pedras, também elas preciosas, verdes. Um verde simples que pode ser bem complexo. Por entre esse verde, sobressai um quê de amarelo, que lhe dá um ar único, que se torna tão grande quando iluminado pelo sol.
Por fim a noite cai e eu também, acompanhado pelas pequenas coisas (:





"A wise man said to me
Don't underrate simplicity
So I strip my life away
And try to live each day by day
And feel
Each moment new
"

sábado, 5 de fevereiro de 2011

uma história sem sujeito.

"de volta ao seu paraíso local, sai do carro com um pacote de bolachas e um iogurte de beber enquanto fecha a porta com um pontapé.
Ainda com a cabeça não tão lúcida quanto gostaria, olha em frente e vê, ao fundo, uma rocha. 
Algo estava diferente de todas as outras vezes.
Desta vez a rocha não estava vazia. Não estava vazia de pessoas, de sentimentos ou até de memórias.
Não.
Desta vez a rocha estava cheia. Bem cheia.
Enquanto se dirige para a rocha tenta encontrar o melhor caminho para não sujar as sapatilhas, já sujas, na lama.
Finalmente chega à rocha. Chega e pára enquanto olha.
Respira fundo e senta-se na rocha não vazia.
Algo está diferente. Até a água estava diferente hoje. Estava calma, reflectia na perfeição o céu azul avermelhado, as árvores que ao fundo permaneciam imóveis, talvez congeladas. Assim como o seu coração.
Mas este hoje contrastava com o frio da rocha, com o gelo das árvores. Hoje tudo estava diferente.
O tempo passou, gelado. As pernas tremiam e as mãos rapidamente corriam para os bolsos, como que a pedir abrigo.
Quando se sentou na rocha, apenas conseguia olhar em frente ou para a direita, olhando de vez em quando para a esquerda, ainda que a medo. 
O tempo continuava a passar, gelado. E com ele trouxe a noite, também ela gelada. Que por sua vez trouxe a lua, as estrelas. Dava para vê-las reflectidas naquelas águas calmas, também geladas.
Tira uma mão do bolso e vê as horas no telemóvel, como que a pedir que não fosse tão tarde como sabia que já era.
Levanta-se da rocha e esta fica vazia, como tantas outras vezes.
Dirige-se para o carro, tentando ver o chão que pisa iluminado também pela lua, mas não evita mais uns tropeções. 
As portas fecham-se e sente-se leve. Bem mais leve, como se tivesse desabafado um ano da sua vida numa hora.
E sente saudade."


Tristan La Cienega

(era esta a música)