Sai de casa, entra no carro e dá à chave sem fazer a mínima ideia para onde vai ou o que vai fazer. Apenas tem uma certeza: não vai ninguém a seu lado. não fisicamente.
Arranca.
Chegada a primeira rotunda, inconscientemente sai na segunda saída e continua o seu caminho, por onde o carro apenas movido a vontade própria conduz.
Nas duas rotundas seguintes sai na primeira e continua a subir, virando à direita um pouco mais à frente, culminando o seu caminho com uma pequena entrada à esquerda, que leva ao seu paraíso local.
O frio faz-se sentir nas rochas. Rochas já carregadas de tantas emoções e sentimentos.
Escolhe a mesma rocha de sempre e senta-se, saboreando a paisagem.
O vento, não tão gelado quanto o seu peito, voa em todos os sentidos, levando o seu cabelo, as suas palavras mudas e levando também um pouco da sua saúde.
Em frente, as águas calmas e cristalinas, reflectindo em si as árvores que a rodeiam, em pequenas ondas, fragmentando a sua imagem.
Levanta-se, dá dois passos em frente e olha para baixo, para o espelho de água e vê-se. Ironicamente, a sua imagem aparece-lhe fragmentada em pequenas ondas, como se de pequenos pedaços se tratasse.
Volta para o cimo da sua rocha, já tão carregada de momentos e pensa neles, vislumbrando-os um a um na sua cabeça, durante o tempo necessário. Pelo menos aqueles de que ainda se lembra.
Ao assistir àquele filme, apercebe-se que a sua maior aliada - a memória - afinal já não o é mais. Parece que esta também lhe foge em certas alturas, que não deixa lembrar-se de tudo o que quer, quando quer.
E fica o vazio. "Apenas o vazio que existe depois das coisas, para nos fazer duvidar que alguma vez existiram".
Encolhe-se, junta a cabeça aos joelhos e fecha os olhos enquanto vislumbra a paisagem do seu paraíso.
E lembra-se que não quer esquecer."
Tristan La Cienega
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