but Heaven is where Hell is..

domingo, 23 de janeiro de 2011

Uma história sem sujeito.

"vem de longe, de uma terra que não é a sua e algo leva a que vá discoteca, mesmo sem grande vontade.
Entra com a cabeça sóbria de álcool e pensamentos, pede uma cerveja e coloca-se a um canto, a olhar. A olhar sem ver, como tantas vezes lhe acontece.
Uma cara conhecida, uma conversa.
Outra cara conhecida, mais uma conversa.
E ali continua, no seu canto, com o seu jeito desleixado a olhar indefinidamente para qualquer lugar.
Até que surge outra cara conhecida. Talvez uma cara que não quisesse ver. Talvez uma cara que precisasse de ver.
Dentro de si sente não sabe bem o quê, talvez a dúvida seja o que mais se adequa.
Pede outra cerveja e regressa ao seu canto, tentando continuar a olhar indefinidamente não sabe bem para onde.
O olhar que nada vê foge, de vez em quando, para o lugar onde consegue ver.
Entre outra conversa, pede mais uma cerveja, e vai para a pista, e com os seus passos descoordenados lá se vai mexendo ao som da música, que tenta sentir. 
Durante algum tempo diverte-se com o seus, enquanto o seu olhar divaga pela sala, sem parar em lugar algum.
Abraços, saltos, fotografias, álcool, sorrisos, gargalhadas. 
Tem tudo para estar feliz ali e naquele momento, mas por alguma razão não o está.
Vai à casa de banho molhar a cara. Levanta a cabeça, olha-se ao espelho e vê o seu cabelo despenteado. Passa-lhe as mãos duas ou três vezes e sai, sem se importar muito se ficou bem ou não.
E regressa ao seu canto, por momentos.
Desta vez não para olhar para qualquer lado, indefinidamente, mas sim para olhar para onde quer. E sabe para onde quer olhar.
E ali fica.
Volta para a pista com mais uma cerveja, puxa de um cigarro e com a cabeça não tão sóbria de álcool e pensamentos tenta apenas ouvir a música, para que o seu pensamento não se distancie muito daquele metro quadrado que ocupa com os seus movimentos atabalhoados.
A noite fica perto do fim.
Nem um olhar trocado. Nenhum cheiro antigo sentido. 
A noite acaba e sai. Entra no carro e acelera para casa, com vontade da sua cama, do seu travesseiro onde deita a cabeça e viaja.
Até que adormece, só."

Tristan La Cienega



"hoje toquei num avião sem tirar os pés do chão."

Sem comentários:

Enviar um comentário