Ainda com a cabeça não tão lúcida quanto gostaria, olha em frente e vê, ao fundo, uma rocha.
Algo estava diferente de todas as outras vezes.
Desta vez a rocha não estava vazia. Não estava vazia de pessoas, de sentimentos ou até de memórias.
Não.
Desta vez a rocha estava cheia. Bem cheia.
Enquanto se dirige para a rocha tenta encontrar o melhor caminho para não sujar as sapatilhas, já sujas, na lama.
Finalmente chega à rocha. Chega e pára enquanto olha.
Respira fundo e senta-se na rocha não vazia.
Algo está diferente. Até a água estava diferente hoje. Estava calma, reflectia na perfeição o céu azul avermelhado, as árvores que ao fundo permaneciam imóveis, talvez congeladas. Assim como o seu coração.
Mas este hoje contrastava com o frio da rocha, com o gelo das árvores. Hoje tudo estava diferente.
O tempo passou, gelado. As pernas tremiam e as mãos rapidamente corriam para os bolsos, como que a pedir abrigo.
Quando se sentou na rocha, apenas conseguia olhar em frente ou para a direita, olhando de vez em quando para a esquerda, ainda que a medo.
O tempo continuava a passar, gelado. E com ele trouxe a noite, também ela gelada. Que por sua vez trouxe a lua, as estrelas. Dava para vê-las reflectidas naquelas águas calmas, também geladas.
Tira uma mão do bolso e vê as horas no telemóvel, como que a pedir que não fosse tão tarde como sabia que já era.
Levanta-se da rocha e esta fica vazia, como tantas outras vezes.
Dirige-se para o carro, tentando ver o chão que pisa iluminado também pela lua, mas não evita mais uns tropeções.
As portas fecham-se e sente-se leve. Bem mais leve, como se tivesse desabafado um ano da sua vida numa hora.
E sente saudade."
Tristan La Cienega
(era esta a música)
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