but Heaven is where Hell is..

domingo, 20 de março de 2011

uma história sem sujeito.

 Processos de purificação


"sexta feira à noite e fica só, não no seu lar mas em sua casa.
o dia é passado na cama, com a cabeça pesada e o corpo poluído por um ou outro copo que não deveria ter sido bebido na noite anterior.
liga o computador e põe a rolar um filme que alguém lhe passara com alguma intenção que iria agora descobrir.
continua na cama, com o corpo deitado, mas sente que é hora de se levantar para relaxar o corpo ainda pesado.
num repente, veste umas calças, a sua camisola quente vermelha de carapuço, pega no porta moedas e sai porta fora, com a cabeça tapada, com os óculos postos, querendo ser invisível e sem tirar os olhos, também eles pesados, do chão pois não lhe apetece ver ninguém.
chega ao supermercado, compra duas cervejas e um pacote de batatas fritas e volta a casa para acabar de ver o filme.
acabada a sessão de cinema, sente que chegou a hora de sair, para lugar incerto, passar algum tempo só consigo, sem interferências.
já passa da meia noite e quando se apercebe está num banco de jardim a saborear as batatas fritas acompanhadas da cerveja que sobrou.
anda alguns metros e, mais abaixo, senta-se e encosta-se a um muro talvez mais escondido do que pensara.
encosta a cabeça ao muro, fecha os olhos e tenta abstrair-se de toda a sujidade que vai na sua cabeça, enquanto sente a brisa fria da noite a percorrer-lhe a cara e a entranhar-se nos ossos que o seu casaco não consegue proteger. 
põe a tocar uma música não tão acidental como isso.
sente o pensamento a fugir, a alma a ser lavada e está longe.
bem longe.
ali permanece por algum tempo, limpando a mente das impurezas a que tem sido sujeita, ou pelo menos tentando fazê-lo. 
abre os olhos, levanta-se e volta a casa com a mente mais leve, mas com o corpo ainda pesado."

Tristan La Cienega

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